Universidade Federal da Bahia
Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas
Centro de Estudos Afro-Orientais
Programa de Pós-Graduação em Antropologia
Etnografia: dez lições para jovens antropólogos em formação.
Prof. Dr. Cláudio Luiz Pereira.
Antropólogo CEAO/FFCH/UFBA.
Junho- julho 2013
Local: CEAO – Largo 2 de Julho, 42 – Centro.
Segundas-feiras – 14 as 18 hs.
Carga Horária: 20 hs.
Taxa de inscrição: R$ 30,00 – 20 vagas.
Inscrições na Secretaria do CEAO.
Programa:
03/06 –
Lição 1. Sobre o pensamento antropológico, e sobre como encontrar utilidade para um conhecimento a ser produzido.
Lição 2. De como o mundo está na nossa cabeça e nossa cabeça no mundo: introdução ao pensamento reflexivo.
10/06
Lição 3. De como ler e anotar para não esquecer.
Lição 4. De como passar do pensar ao pesquisar, sem traumas nem choro.
17/06
Lição 5. Sobre como se situar em um mundo que não é seu: a realidade da pesquisa.
Lição 6. Da etnografia como experiência humana, e dos modos de observação e participação que lhes são inerentes.
01/07
Lição 7. Sobre como reduzir o fluxo da realidade a análise e a interpretação antropológicas.
Lição 8. Da etnografia como construção textual da realidade.
08/07
Lição 9. A propósito da narrativa, da descrição e da argumentação etnográficas enquanto representações da ação social.
Lição 10. De como pensar como leitor do autor que você (pensa que) se tornou.
Sinopse:
A idéia de Etnografia como alguma coisa difusa é muito difundida, seja no campo dos agentes de sua matriz disciplinar, seja no modo como o senso comum, ou outras pesquisas em busca de interdisciplinaridade processam a idéia da metodologia antropológica.
Texto. Método. Técnica de pesquisa. A pesquisa em si mesma. Técnica de escrita. Relatos. Trabalho de campo. Escrita de si do antropólogo. Descrição. Interpretação. Tradução de culturas. Diálogo. Modo de observação. Observação participante. Participação observante...
A Etnografia derrapa assim numa confusão singular, em que é etnografia tudo que os antropólogos podem chamar de etnografia. E talvez esta seja mesmo a grande falácia deste método. Pois que, muito além da mera retórica, a antropologia não é, justamente, tudo que quisermos chamar de antropologia. Auto-corrigível, a antropologia sabe separar o joio do trigo.
No entanto, ou talvez por isto mesmo, a etnografia continua sendo a cereja do bolo da antropologia. Certamente o que de melhor ela tem a oferecer sobre o conhecimento humano. Devemos, portanto, resguardar com zelo este instrumento do conhecimento antropológico, processo e produto, caminho seguro para representar a realidade social.
Estas Lições serão divagações em torno da etnografia e de muitos descaminhos ou atalhos que podem ser percorridos através do método.
Combinarão uma revisão de fórmulas, de questões em aberto, de rabiscos vários, de pensamentos atirados ao léu. São reflexões sobre coisas que nós antropólogos perguntamos a nós mesmos, e são sobre as maneiras como, enfim, podemos produzir ciência, útil ou inútil.
As Lições serão assim, virtualmente, aporéticas. Pois, se a antropologia não for capaz de formular uma questão para a qual não tem resposta, não deve ser capaz de formular a resposta para a qual não possa cobiçar a pergunta.
Objetivos do curso:
O curso tem como objetivo explorar temas e problemas técnicos da produção de etnografias, que podem ser preliminarmente listados:
1. A escrita: o lugar onde o pensamento antropológico plasma.
2. Etnografia enquanto “trabalho em progresso”, e como produto final.
3. Com qual escrita se pode inscrever a cultura?
4. Explorando as razões pelas quais os antropólogos escrevem.
5. Compreender e explicar como dilema antropológico.
6. Quem são aqueles para quem os antropólogos escrevem?
7. Divulgação e vulgarização de idéias antropológicas.
8. O lugar da teoria na escrita etnográfica.
9. Como formular um argumento antropológico útil etnograficamente.
10. Dados etnográficos: como construí-los, usá-los ou desprezá-los?
11. Unidade de pesquisa e unidade de análise: como circunscrever um objeto etnográfico?
12. O que esperam aqueles sobre os quais os antropólogos escrevem?
13. A presença do autor no campo de pesquisa e na escrita.
14. Etnografias experimentais: outras formas de registros e documentação.
15. Poesia e etnografia.
16. Para que serve a antropologia?
17. O mais terrível dos trabalhos: a análise.
18. Etnografias têm que conter demonstração? O que elas pretendem provar, afinal?
19. Como ler etnografias sem se aborrecer com elas?
20. Imposturas no campo de pesquisa e na escrita.
21. Diário de campo e auto-análise.
22. Ler e escrever etnografias.
23. Você confiaria em um antropólogo que não tem sua própria biblioteca?
24. Por que os antropólogos constroem argumentos valendo-se de categorias?
25. Etnografias têm que ter conclusões ou podem-se fazer apenas considerações finais?
26. Dez macetes para tornar fácil a construção de uma problemática antropológica.
26. Critérios de validação antropológica e garantias quanto à veracidade de uma verdade antropológica.
27. Em torno da fronteira da ficção: até que ponto os antropólogos podem fabular?
28. O campo como lugar de encontro, diálogo e tradução.
29. Ainda existem antropólogos de gabinete?
30. É necessário ser um bom teórico para fazer etnografia?
Bibliografia preliminar:
Anderson, B.G. First fieldwork: the misadventures of an anthropologist. Illinois: Waveland Press, 1990.
Atkinson, P. The ethnographic Imagination: textual constructions of reality. London: Routledge, 1991.
Booth, W.C.; Colomb, G.G. & Williams, J.M. A arte da pesquisa. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
Clifford, J. A experiência etnográfica: antropologia e literatura no século XX. RJ: Editora UFRJ, 1998.
Clifford, J. e Marcus, G. Writing Culture. Los Angeles: Univ. of California Press, 1986.
DaMatta, R. Relativizando: uma introdução à antropologia social Rio de Janeiro: Rocco, 2010.
Emerson, R. M., Fretz, R.I. & Shaw, L.L. Writing ethnographic fieldnotes. Chicago: The Univers. Of Chicago Press, 1995.
Fetterman, D.M. Ethnography: step by step. Thousand Oaks, Ca: SAGE Publications, 1998.
Geertz, C. ET all. El surgimiento de La antropologia posmoderna. Barcelona: gedisa, 2003.
Graeber, D. Fragments of an Anarchist anthropology. Chicago: Prickly Paradigm press, 2004.
Hammersley, M. & Atkinson, P. Ethnography. New York: Routledge, 1996.
Jacobson, D. Reading ethnography. New York: State University of New York Press. 1991.
Laplantine, F. A descrição etnográfica. São Paulo: Terceira margem, 2004.
LeCompte, M.D. & Schensul. J.J. Design & conducting ethnographic research Lanhan: Altamira Press, 1999.
Marcus, G. E. Ethnography through Thick & Thin. Princeton: Pinceton University Press, 1998.
Peirano, M. A favor da etnografia. P.Alegre: Relume Dumará, 1996.